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Arqueologia 'na cagada' reacende discussão sobre patrimônio em Salvador

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Arqueologia 'na cagada' reacende discussão sobre patrimônio em Salvador

A prefeitura informou que a Praça Castro Alves ficará interditada no Carnaval, para aprofundamento das pesquisas acerca da estrutura encontrada

Arqueologia 'na cagada' reacende discussão sobre patrimônio em Salvador

Foto: Divulgação

Por: James Martins no dia 27 de dezembro de 2019 às 14:50

A Praça Castro Alves já foi o Largo do Theatro. Sim, do Theatro São João, onde o próprio Castro Alves estreou sua única peça, “Gonzaga ou a Revolução de Minas”, a 7 de setembro de 1867, com Eugênia Câmara, sua musa-mor, no papel de Marília. Inaugurado em 1812, esta foi apenas uma das páginas importantes daquela que foi a maior casa de espetáculos do país no século XIX. Seguindo (ou inaugurando?) uma estranha tradição baiana, o São João acabou destruído pelo fogo em 1923, mesmo ano que viu nascer a Praça Castro Alves, com a instalação ali do famoso monumento ao poeta.

E, cumprindo outra tradição local, a da arqueologia “na cagada”, durante escavações da obra de requalificação da praça, foi encontrado nesta segunda-feira (23), o que se acredita serem vestígios do teatro. A verdade é que ninguém sabe ainda do que se trata e alguns especulam que são restos de uma fonte. Mas, seja como for, a descoberta empolgou a classe artística. “Torcendo que seja o teatro”, disse o ator Lelo Filho, no Facebook. “Na pesquisa pra escrever Siricotico, pesquisei tanto a história desse teatro que cheguei a sonhar que estava em cena nele”, completou. E que rumo a descoberta irá tomar? Quem responde é o historiador Jaime Nascimento: "O Iphan tem que parar a obra e fazer os estudos arqueológicos para definir o que será feito", disse em conversa com o Metro1.

Atualmente, a nova edificação, inaugurada em 1935, abriga o Palácio dos Esportes, onde funcionam federações esportivas como Fundação do Esporte Amador da Bahia, Federação Bahiana de Boxe e Federação Bahiana de Atletismo. “Que tal começarmos uma campanha para se recriar o Teatro São João como nosso teatro municipal, que faz tanta falta, ainda mais com toda requalificação do entorno e a subutilização do Palácio dos Esportes? Poderia se integrar o teatro ao prédio do Palácio, que seria para salas de ensaio, administração, etc”, sugeriu o dramaturgo Gil Vicente Tavares, também nas redes sociais.

Já o arquiteto Márcio Correa Campos lembra que o achado reaviva a discussão sobre nossa falta de atenção patrimonial. “A Bahia só consegue confirmar seu destino: produzir ou inventar arqueologia de ontem. Para que preservar patrimônio histórico se depois de amanhã todos podem se comover muito mais com uma nova descoberta arqueológica? Capital do fim do mundo, prepara desde já a ruína da ponte para Itaparica!”, ironiza.

De fato, se lembrarmos que a fachada da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em estilo plateresco, considerada uma joia única do barroco nacional, foi redescoberta pelas marteladas de um eletricista, por puro acaso, sob grossas camadas de argamassa, o aparente mau humor de Márcio ante o achado da vez se justifica. Agora, resta-nos rezar (Valei-nos São João, São Francisco, Castro Alves) para que o advento de fim de ano seja bem encaminhado. Estamos de olho, Iphan.